Apesar de ser um problema de interesse atual, a diabetes mellitus já era reconhecida há centenas de anos antes da era cristã. Lá no longínquo passado ela era conhecida somente como "diabetes" (do grego "sifão") por ser uma doença que causava polidipsia (sede excessiva) e poliúria (vontade recorrente de urinar). Foi no século XVII que ao seu nome foi adicionado o termo "mellitus", quando o médico inglês Thomas Willis percebeu que, além de atrair formigas, a urina dos pacientes com essa doença tinha um curioso gosto doce.

Apesar de ter um nome para chamar, a diabetes mellitus continuou como uma doença de causa obscura até 1889, quando Joseph von Mering e Oskar Minkowski, durante experimentos clínicos, decidiram tirar o pâncreas de cachorros para entender o impacto digestivo que tinha. Como a maior parte das descobertas geniais, a relação entre pâncreas e diabetes mellitus fora reconhecida por pura coincidência. A retirada do pâncreas fez com que os animais usados no experimento apresentassem todas as características anteriormente descritas como relacionadas a diabetes mellitus. Estabelecido a relação entre órgão e morbidade, faltava agora uma última peça no tabuleiro, o responsável molecular.

Antes do experimento de Joseph e Oskar, em 1869, Paul Langerhans, aluno de medicina, estava estudando a histologia do pâncreas quando percebeu que algumas regiões celulares na cauda desta glândula coravam com intensidade diferente das demais regiões que vinha visualizando. Por essas regiões parecerem isoladas das demais (ácinos) ele as nomeou como ilhotas pancreáticas (futuramente conhecidas como ilhotas de langerhans). Esse foi um passo indispensável para o reconhecimento do papel endócrino do pâncreas, que só seria descrito na virada do século XIX para o século XX.

A insulina só seria então isolada, e serviria como tratamento para aumentar a sobrevivência de pacientes com diabetes mellitus na década de 1920 por um grupo de pesquisadores encabeçado por Frederick Bating e Charles Best, cerca de 30 anos depois de Dom Pedro II falecer por agravos na saúde devido a sua doença crônica, isolado na Europa e com saudades do seu tão amado Brasil.

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